quinta-feira, 17 de junho de 2010

Michel Foucault e Estudos Culturais

ESTUDOS CULTURAIS – MICHEL FOUCAULT (1926 – 1984)

1. Biografia

“Michel Foucault nasceu em 1926 em Poitiers, no sul da França, numa rica família de médicos. Aos 20 anos foi estudar psicologia e filosofia na École Normale Superieure, em Paris, período de uma passagem relâmpago pelo Partido Comunista. Obteve o diploma em psicopatologia em 1952, passando a lecionar na Universidade de Lille. Dois anos depois, publicou o primeiro livro, Doença Mental e Personalidade. Em 1961, defendeu na Universidade Sorbonne a tese que deu origem ao livro A História da Loucura. Entre 1963 e 1977, integrou o conselho editorial da revista Critique. Em meados dos anos 1960, sua obra começou a repercutir fora dos círculos acadêmicos. Lecionou entre 1968 e 1969 na Universidade de Vincennes e em seguida assumiu a cadeira de História dos Sistemas de Pensamento no Collège de France, alternando intensas pesquisas com longos períodos no exterior. A partir dos anos 1970, militou no Grupo de Informações sobre Prisões. Entre suas principais obras estão História da Sexualidade e Vigiar e Punir. Foucault morreu devido à complicações por causa da AIDS, em 1984.” **

2. Obras Publicadas:


• Doença Mental e Psicologia, (1954);
• História da loucura na idade clássica, (1961);
• Nascimento da clínica, (1963);
• As palavras e as coisas, (1966);
• Arqueologia do saber, (1969);
• Vigiar e punir, (1975);
• História da sexualidade:
o A vontade de saber, (1976);
o O uso dos prazeres, (1984);
o O Cuidado de Si, 1984;
o Ditos e escritos; (2006);
• A vontade de saber; (1970-1971)
• Teorias e instituições penais; (1971-1972)
• A sociedade punitiva; (1972-1973)
• O poder psiquiátrico; (1973-1974)
• Os anormais; (1974-1975)
• Em defesa da sociedade; (1975-1976)
• Segurança, território e população; (1977-1978)
• Nascimento da biopolítica; (1978-1979)
• Microfísica do Poder; (1979)
• Do governo dos vivos; (1979-1980)
• Subjetividade e verdade; (1980-1981)
• A hermenêutica do sujeito; (1981-1982)
• Le gouvernement de soi et des autres; (1983)
• Le gouvernement de soi et des autres: le courage de la vérité; (1984)
• A Verdade e as Formas Jurídicas; (1996)
• A ordem do discurso; (1970)
• O que é um autor? (1983)
• Coleção Ditos e escritos; (5 livros),(2006)



3. Conhecimento – Relações de Poder

As relações sociais são permeadas pelo poder, porém ele não é algo que emana de um centro, como por exemplo, o Estado. O poder está distribuído difusamente por todo o corpo social.

4. Homem

Para Foucault, o homem não preexiste ao mundo social, e sim, o homem se constrói através do social, que por sua vez, vai se moldando pela ação humana. Em “O Sujeito e o Poder” de 1984 ele diz: “Meu objetivo foi criar uma história dos diferentes modos pelos quais, em nossa cultura, os seres humanos tornaram-se sujeitos. [...] é o sujeito que constitui o tema geral de minha pesquisa”.

5. Filosofia da Educação – “modernidade e educação”

Foucault critica a racionalidade moderna, não exclui a própria racionalidade, e sim questiona a idéia unificadora e totalitária da razão. Seu objetivo principal sempre fora não propriamente declarar e transmitir verdades, mas sim trazer problematizações sobre o que se considera verdadeiro em um determinado campo do saber e em determinado momento histórico. Pode-se dizer que em toda a produção “foucaultiana” jamais se encontra qualquer recomendação sobre como deve funcionar a educação, sobre como deve ser conduzida a prática pedagógica.
Não se encontra, na sua obra, advertências éticas e técnicas sobre o papel do professor, sugestões sobre a educação no ambiente familiar ou escolar. Por que falamos de Foucault na educação? A articulação de todo o pensamento de Foucault com a educação pode ser feita tomando o sujeito como elemento que é capaz de estabelecer uma ligação entre ambos. O sujeito foi “tema geral da pesquisa” do filósofo, e de outro lado, o sujeito é o elemento central para qualquer pedagogia. Foucault entende o sujeito como uma invenção da modernidade, enquanto a imensa maioria das correntes pedagógicas entende o sujeito como uma entidade preexistente a ser “trabalhada”, ou seja, a ser educada.
Para o filósofo, a educação funciona como um conjunto de dispositivos e estratégias capazes de construir o sujeito. A filosofia, como afirma Foucault, é o exercício da suspeita, a busca inquietante por aquilo que ainda não pensamos, então, a educação precisa ser um “questionar-se” sobre as certezas prontas do universo educacional.

6. Os “três domínios” da produção foucaultiana

“Fazer da aula e do livro mais espaços para a experiência do que para a verdade”

A produção foucaultiana possui três domínios: o “ser-saber”; o “ser-poder”; e “ser-consigo”.
• Educação e “ser-saber”: o saber científico constrói-se numa busca de ordenação do mundo. As diversas ciências constituem-se em esforços de construção de uma ordem do mundo ao nível do saber. A disciplina tornou-se sinônimo de campo de saber, ela invoca em si tanto o campo do “saber” como também, um mecanismo político de controle, de certo exercício do poder. Esta ordenação está intimamente relacionada com o próprio mecanismo de poder.
• Educação e “ser-poder”: existem três modelos de exercícios de poder: o de soberania, o disciplinar e o biopoder. Eles não se excluem, muito pelo contrário, eles se complementam. As tecnologias: “disciplinar” e “soberania” são uma forma de “domar” os corpos dos indivíduos, como uma forma de introduzir a dominação. O biopoder permite um exercício sobre um corpo político. É o biopoder que possibilita a governabilidade dos povos, essa tecnologia exerce um poder sobre um corpo que não é individual e sim coletivo.
• Educação e “ser-consigo”: nesse terceiro domínio, o filósofo permite que educadores pensem em torno do que eles fazem consigo mesmo. O educador precisa adestrar-se a si mesmo, construir-se como educador, para que possa educar.

**http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/critico-instituicao-escolar-423110.shtml